Arte como ferramenta da educação inclusiva

Marco Antonio Alves de Mello

Orientador socioeducacional do nais são luis guanella

A escola não pode ser estática. Talvez esse seja o maior dilema com o qual nos deparamos ao pensar alternativas que buscam inserir a escola no contexto dos jovens e do mundo moderno. O Brasil, país de relativa curta história de regulação da educação pública, nos apresenta o desafio de lidar com o acesso irrestrito ao ensino e sua democratização, enquanto, no âmbito da escola particular, a inclusão também se apresenta como um dilema.

Uma escola para todos significa uma escola para diversos indivíduos dotados de subjetividade distinta, histórias de vida diversas, classes sociais das mais variadas, seres psicológicos únicos. Dessa miríade de realidades surgem os conflitos e atritos dentro do ambiente escolar, o que é perfeitamente natural e faz parte da diversidade. O esforço dos educadores deve vir no sentido de tornar o ambiente escolar um lugar onde os conflitos latentes são resolvidos de forma cívica e civilizada, onde a diversidade humana – de gênero, cor, raça e etc. – seja respeitada (MANTOAN, 2006). E o mais importante e mais difícil: procurar não perpetuar mecanismos de opressão e discriminação que se operam na sociedade e são transportados objetivamente ou subjetivamente para o ambiente escolar, tanto pelo corpo docente e administrativo quanto pelos alunos. Pois, justamente por não ser estática, a escola reflete as vicissitudes da sociedade na qual se insere, e deve atuar menos como mecanismo regulador e mais como harmonizadora das forças sociais das quais se vale.

Partindo dessa premissa de inclusão, fundamental para construção de uma escola e sociedade mais saudáveis e relacionada com os objetivos fundamentais da Base Nacional Curricular Comum (BNCC, 2017), buscamos discutir um mecanismo particular de facilitação e promoção da inclusão, na forma da arte, em suas mais diversas manifestações. Englobando o entendimento da arte como disciplina presente e articuladora nos currículos e vivências das escolas, sendo assim um exercício de cidadania. Também está inserida sua grande pertinência na discussão sobre educação no Brasil e, particularmente, suas contribuições na perspectiva da educação inclusiva e nos diversos desenvolvimentos, aqui incluso o cognitivo, que a mobilização deste aspecto da condição humana – nas formas de criação e de área formativa do saber – pode proporcionar.

“Fica claro que para realizar uma escola realmente inclusiva, é preciso que os espaços e as pessoas se adaptem para comportar as diferenças e diversidade humanas e não o contrário”.

É preciso ressaltar a relevância cientifica do tema, visto que contribui vastamente para o debate em educação, na medida em que propõe formas de pensar o processo ensino-aprendizagem, assim como desenvolve o crescimento profissional e acadêmico de pessoas historicamente excluídas, seja no âmbito social quanto no ambiente escolar. A metodologia utilizada consistiu em uma pesquisa descritiva e exploratória, consultando-se livros e artigos científicos em suporte online e físico, para coleta de conhecimento acadêmico prévio a respeito dos assuntos abordados​ e, de forma qualitativa, análise crítica dos dados coletados sobre o tema. Por meio de indução foram aferidas constatações e conclusões acerca do assunto, de forma que o quadro teórico faz relações sobre o tema e a bibliografia escolhida, conduzindo o assunto, de maneira sistemática e sucinta, fundamentando os argumentos que permeiam todo o trabalho, além de garantir os limitantes da pesquisa.

Discutimos ainda o papel da arte como ferramenta de aprendizagem, podendo servir para desenvolver habilidades escolares, assim como contribuir para o desenvolvimento e apreciação social do aluno, de forma a auxiliá-lo a olhar o mundo de uma forma menos analítica e diferente dos meios convencionais de ensino. O que é a escola senão um espaço onde se expressam as vivências e experiências dos indivíduos dotados de particularidade e subjetividade tão caras e valiosas ao desenvolvimento cognitivo? Fica claro que para realizar uma escola realmente inclusiva, é preciso que os espaços e as pessoas se adaptem para comportar as diferenças e diversidade humanas e não o contrário.

É papel do ensino de artes fomentar a compreensão e articulação de seres ímpares, por meio de atividades lúdicas ou de reflexão e introspecção. O dançar junto, o pintar o outro ou o ato de observar uma escultura, todos são exercícios agregadores de conhecimento e humanidade, na medida em que há o contato direto com a subjetividade, na figura das sensações, emoções, expectativas e visões de mundo que compõem os diferentes pontos de vista e manifestações lúdicas que são parte intrínseca da condição humana. 

O exercício de inclusão efetiva então, configura-se como um exercício de cidadania, na medida em que abraça a diversidade social e compreende que só a partir da articulação das diferentes potencialidades de cada um é que podemos chegar a um ensino que seja significativo para cada um dos estudantes. Aqui compreendendo o cotidiano escolar e seu entorno como uma realidade que envolve professores, o corpo de profissionais da escola, a família e a comunidade na qual os alunos com dificuldades de aprendizagem ou superdotados estão inseridos, pois, afinal, eles fazem parte de uma sociedade na qual a escola é uma instituição especifica e não descolada de toda uma vida a se viver.

A conclusão que se depreende é a de que a arte na educação é uma ferramenta de transformação e de emancipação, à proporção em que trabalha com o que há de único em cada um dos educandos e, mais que isso, resume a compreensão dessa individualidade entre os sujeitos e os grupos e proporciona os caminhos mentais pelos quais os educadores podem tatear as diferentes formas de viver e de compreender o mundo, para então, a partir de um ensino coordenado, fazer melhor uso dessa descoberta e desse viés não convencional no processo de ensino-aprendizagem para proporcionar aos alunos excluídos uma formação escolar verdadeiramente inspiradora. Não há meios tradicionais pelos quais possamos nos aproximar de questões complexas e onde métodos engessados já se mostraram ineficazes. É preciso tornar o desafio da educação inclusiva como central no debate da educação brasileira, no intuito de superar, enfim, as meras disposições legais. Com o acompanhamento de profissionais que entendam o papel da arte no processo de ensino-aprendizagem, na figura dos professores, arte-educadores, orientadores e cuidadores, o aluno poderá se desenvolver e estar mais preparado para buscar seu pertencimento junto à sociedade como um todo. Por meio da linguagem artística, pode-se suscitar a inclusão, extrapolando a escola, a adaptação das instituições as necessidades e particularidades dos grupos historicamente excluídos da sociedade. Tudo isso é parte fundamental da luta por uma sociedade verdadeiramente igualitária. É preciso que a educação, como terreno fértil da reflexão, encare esse desafio!


(Este artigo é um trecho do TCC do Curso de Artes Visuais)


Marco Antonio Alves de Melo é formando em Licenciatura de Artes Visuais, no Centro Universitário Claretiano, São Paulo.

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