Dia de São Luiz Gonzaga, Dia do Seminarista

ADRIEL WILSON DA SILVA, SdC

Estudante do seminário internacional aurélio bacciarini (roma)

“Disse tudo isto, ilustríssima senhora, para ceder ao desejo que tenho de que tu e toda a minha família considereis minha partida como um feliz benefício. Que a tua bênção materna me acompanhe na travessia deste mar, até alcançar a margem onde estão todas as minhas esperanças. Escrevo isto com alegria para dar-te a conhecer que nada me é bastante para manifestar com mais evidência o amor e a reverência que te devo, como um filho à sua mãe.[1]

Com essas belíssimas palavras concluía são Luiz Gonzaga uma carta com a qual saudou sua mãe antes de nascer para o Céu, jovem ainda, com apenas 23 anos. Vida curta, mas que já tinha alcançado uma admirável estatura de santidade.

São Luiz, que era filho de família nobre, tinha diante de si muitas possibilidades de sucesso e conforto. Sentiu, entretanto, que Deus lhe havia preparado um caminho bem específico: o sacerdócio. Enfrentou a incompreensão inicial do pai e ingressou na Companhia de Jesus. De Luiz podemos dizer que viveu intensamente os anos de preparação ao sacerdócio e que assimilou profundamente a intuição inaciana: conhecer, amar e servir a Deus. Para isso viemos a este mundo.

Seu desejo de ser sacerdote todavia não foi alcançado, mas não como nos viria ao pensamento atualmente, não foram “crises” e tentações consentidas que impediram o santo de concretizar esse sonho. Pelo contrário, sua dedicação aos doentes que viu em Roma, quando foi à Cidade Santa para prosseguir os estudos, fez com que também ele contraísse o tifo e viesse a falecer. Luiz sabia o que queria. E um santo dessa grandeza é modelo e protetor dos seminaristas. É dele que todos nós seminaristas aprendemos a pautar toda a vida com uma simples pergunta: “De que serve isto para a Eternidade?” O que não serve para tanto, imediatamente deve ser deixado.

Em momentos difíceis de pandemia colocamos nossa confiança na medicina e naqueles que a estudaram e são capazes de usá-la bem. Não queremos médicos que tenham aprendido errando, queremos aqueles que aproveitaram o tempo de preparação e saíram em campo prontos para salvar vidas.

Nos momentos de guerra (que infelizmente são tantas e contemporâneas nossas), tendemos a confiar nas Forças oficiais da nação. Também aqui não queremos um militar que eventualmente esteja aprendendo a se defender. Confiamos naquele que saiu em campo preparado e pronto para salvar vidas. Sem preparação, não se tem o médico confiável, nem o soldado, nem o professor, nem o cantor à altura.

Pois bem, em tempos difíceis e em tempos de bonança, em tempos de paz ou em tempos de guerra, o responsável pelas almas é o sacerdote. Preparado não só para salvar a vida atual, mas a vida eterna, ele é responsável pela alma do doente e do médico, do soldado que cantará a vitória e daquele que porventura tenha caído. Está disposto inclusive a dar a vida, como fez São Maximiliano Kolbe, para poder dar absolvição aos companheiros de cárcere que morreriam com ele, e assim abrir-lhes as portas do Céu.

Altíssimo ideal é alcançável com preparação, com um longo caminho de desprendimento de si, das pessoas, das coisas, lugares… Anos de estudos – dez, doze, quinze anos – não para si, mas para os outros. Mesmo tendo sido o primeiro aluno da classe, um médico não fará um transplante a si mesmo, pois estuda para os outros. Assim o sacerdote.

Esse é o motivo de deixar a família para iniciar o processo de formação sacerdotal em um seminário: doar a vida pelo irmão. Mas esse doar só tem sentido, como teve para Luiz e para Kolbe, para quem crê. Quem não crê será tentado a depositar absolutamente toda a esperança no médico, nas Forças, na ciência, no progresso.

Os homens poderão resolver problemas de saúde, darem-se alguns anos a mais de vida, fazer acordos e mais acordos de paz, mas não conseguirão resolver seu futuro depois da morte, podem tentar adiá-la, mas não fugir dela: em suma, o homem não será nunca o Juiz. E quando o médico não for mais a resposta, nem os cálculos humanos, nem a ciência, nem as guerras, quando estivermos prestes a escutar a frase dos momentos definitivos: “nós não podemos fazer mais nada”, ali estará – mais forte do que qualquer soldado, mais confiante na Vida do que qualquer doutor em medicina, com a sabedoria da Cruz que supera toda a ciência – o sacerdote. O jovem que se preparou no seminário não só para salvar vidas. Seria pouco! Mas para salvar almas para a Vida Eterna. Que são Luiz Gonzaga, nosso padroeiro, nos conceda a graça de correspondermos aos dons que nos são dados para tão alta missão e interceda junto a Deus pelas famílias de todos os seminaristas, para que as mais ricas bênçãos dos Céus sejam a recompensa por tão grande generosidade para com a Igreja e para com a humanidade.


[1] in Liturgia das Horas III, 1361-1362


Adriel Wilson da Silva é seminarista nascido em São Miguel do Iguaçu, Paraná, e entrou na congregação Servos da Caridade (SdC), em 22 de fevereiro de 2010.

1 comentário em “Dia de São Luiz Gonzaga, Dia do Seminarista

  1. Leonice Responder

    Belas palavras meu amigo, que Deus continue te abençoando e o Espírito Santo iluminando seus caminhos. Saudades! Um fraterno abraço!

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