Também conhecidos como Protomártires do Brasil (ou seja, os primeiros mártires do Brasil) os Santos Mártires de Cunhaú e Uruaçu são 30 católicos (dois sacerdotes e 28 leigos) que foram martirizados no interior da então Capitania do Rio Grande do Norte, em 1645, durante uma das invasões holandesas no Brasil. O primeiro massacre aconteceu na Capela de Nossa Senhora das Candeias, no Engenho de Cunhaú, município de Canguaretama; o segundo, na comunidade de Uruaçu, município de São Gonçalo do Amarante.
Foram 25 homens e 5 mulheres, todos beatificados pelo Papa João Paulo II, no dia 5 de março de 2000 e, posteriormente, canonizados pelo Papa Francisco, em 15 de outubro de 2017. Entre os sacerdotes canonizados estão o padre André de Soveral, morto em Cunhaú, e o padre Ambrósio Francisco Ferro, assassinado em Uruaçu.
No Engenho de Cunhaú, principal polo econômico da Capitania do Rio Grande do Norte (atual estado do Rio Grande do Norte), existia uma pequena e fervorosa comunidade composta por 70 pessoas, sob os cuidados do padre André de Soveral. No dia 15 de julho, chegou em Cunhaú, Jacó Rabe, trazendo consigo seus liderados, os ferozes tapuias, e, além deles, alguns potiguares com o chefe Jerera, e soldados holandeses. Jacó Rabe era conhecido por seus saques e desmandos feitos com a conivência dos holandeses, deixando um rastro de destruição por onde passava.
Dizendo-se em missão oficial pelo Supremo Conselho Holandês do Recife, convoca a população para ouvir as ordens do Conselho, após a missa dominical no dia seguinte. Durante a Santa Missa, após a elevação da hóstia e do cálice, a um sinal de Jacó Rabe, foram fechadas todas as portas da igreja e se deu início à terrível carnificina: os fiéis em oração, tomados de surpresa e completamente indefesos, foram covardemente atacados e mortos pelos flamengos com a ajuda dos tapuias e dos potiguares.
A notícia do massacre de Cunhaú espalhou-se por todo o Rio Grande e capitanias vizinhas. Mesmo suspeitando dessa conivência do governo holandês, alguns moradores influentes pediram asilo ao comandante da Fortaleza dos Reis Magos. Assim, foram recebidos como hóspedes, o vigário padre Ambrósio Francisco Ferro, Antônio Vilela, o Moço, Francisco de Bastos, Diogo Pereira e José do Porto. Os outros moradores, a grande maioria não pôde ficar no Forte, então, assumiu a sua própria defesa, construindo uma fortificação na pequena cidade de Potengi, a 25 km de Fortaleza, capital do Ceará.
Enquanto isso, Jacó Rabe prosseguia com seus crimes. Após passar por várias localidades do Rio Grande do Norte e da Paraíba, Rabe foi então a Potengi e encontrou a heroica resistência armada dos fortificados. Como sabiam que ele mandara matar os inocentes de Cunhaú, resistiram o mais que puderam, por 16 dias, até que chegaram duas peças de artilharia vindas da Fortaleza dos Reis Magos. Não tinham como enfrentá-las; depuseram as armas e entregaram-se nas mãos de Deus.
Cinco reféns foram levados à Fortaleza dos Reis Magos: Estêvão Machado de Miranda, Francisco Mendes Pereira, Vicente de Souza Pereira, João da Silveira e Simão Correia. Desse modo, os moradores do Rio Grande do Norte ficaram em dois grupos: 12 na Fortaleza e o restante sob custódia, em Potengi.
No dia 2 de outubro, chegaram ordens de Recife mandando matar todos os moradores, o que foi feito no dia seguinte, 3 de outubro. Os holandeses decidiram eliminar primeiro os 12 que estavam no Forte, por serem pessoas influentes, servindo de exemplo: o vigário, um escabino (tipo de magistrado) e um rico proprietário.
Foram embarcados e levados rio acima para o porto de Uruaçu. Lá, o chefe indígena potiguar, Antônio Paraopaba, e um pelotão armado de duzentos índios seus comandados esperavam por eles. Repetiram-se, então, as piores atrocidades e barbáries, que os próprios cronistas da época sentiam vergonha em contá-las, porque atentavam às leis da moral e modéstia.
Um dos martirizados, Mateus Moreira, estando ainda vivo, teve arrancado o coração pelas costas. Ele, no entanto, ainda teve forças para proclamar a sua fé na Eucaristia, dizendo: “Louvado seja o Santíssimo Sacramento”.
Protomártires do Brasil, rogai por nós!
Fonte: Site Canção Nova.